Nipocultura: a cultura japonesa ao seu alcance

100 anos de imigração | Takashi Chonan e a trajetória do alho no Brasil

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Corria o ano de 1977. Não me lembro do mês. Mas o vento fresco e ameno que soprava me faz acreditar que já estivéssemos em princípios do segundo semestre. Talvez não. O clima naquela região costuma ser assim mesmo, com aquele permanente ar outonal.
Fui convidado por amigos do Ceagesp de São Paulo, parceiros de plantadores de tomate da região, para uma churrascada em Curitibanos – comemoração da boa safra que haviam colhido naquele ano.
Da cidade até o local, apenas estrada de terra e mato dos dois lados. Às primeiras horas da manhã, as folhas à beira da estrada, cobertas de grossa poeira, ainda se apresentavam úmidas de orvalho. Raras habitações se avistavam. Passamos por um cemitério à beira da estrada, pequeno, quase um terreno urbano, cercado com arame farpado e mourões de madeira. Apenas  algumas flores murchas, espalhadas ao lado das indefectíveis flores plásticas – já desbotadas pelo tempo – ao pé de cruzes de madeira, anunciavam a finalidade daquele pedaço de chão. De vez em quando, a poeira que se avistava por trás das colinas ou do mato, anunciava veículo em movimento.

À moda gaúcha, com o braseiro numa valeta cavada no chão, o churrasco começou cedo. Todos conversavam animados, copos na mão, planejando o próximo plantio. Quase todos. Um e apenas um estava em cima do trator lavrando a terra. Perguntei quem era.
-“Esse é o Takashi Chonan que desenvolveu uma nova variedade de alho. Vc já ouviu falar do Alho Chonan?”, respondeu-me, perguntando ao final, meu amigo paulista. Já tinha ouvido falar, mas por estar distante do meio, minha avaliação nunca seria precisa. A real dimensão da importância econômica pudemos aquilatar assistindo ao documentário “A Terra do Sol Nascente em Solo Catarinense”, quando se revela que apenas o plantio desta variedade de alho deu 5000 empregos à população de Curitibanos. Hoje metade dos cultivares de alho do Brasil, que chega a plantar 12 mil hectares, teve origem na variedade Chonan.
O imigrante Takashi Chonan, àquela época, por necessidade financeira, certamente não precisava trabalhar. Para o japonês Takashi Chonan o trabalho parece estar no DNA,  trabalhava por necessidade psicológica; mas para o homem Takashi Chonan, trabalhar certamente significa se dedicar para levar o desenvolvimento à sua região, ao país que o acolheu, e conseqüentemente,   melhorar a vida ao seu redor. É se dedicar ao próximo. É amar o ser humano.
Chonan ajudou a implantar a colônia japonesa do Distrito de Frei Rogério.
Conseguiu visitar  sua terra natal após 21 anos de Brasil e recusou convite para permanecer no Japão. Quis voltar para o Brasil.
O município de Frei Rogério, sua região, foi distrito de Curitibanos até 20 de julho de 1995. Com a emancipação, Takashi Chonan foi seu primeiro prefeito.

É gente que ajudou a escrever a história dos imigrantes japoneses, com as tintas do suor, em páginas de exemplos edificantes, na História de Santa Catarina e do Brasil.

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