Nipocultura: a cultura japonesa ao seu alcance

A SEMANA DA PAZ – II

A SEMANA DA PAZ – II
 
O imigrante Kazumi Ogawa – II
 
Ogawa não quis mais permanecer em local de tão tristes lembranças. A outrora agradável Nagasaki dos amigos, das colinas verdejantes, dos undo-kais (gincana familiar), da floração das cerejeiras,tornou-se cemitério de entulhos, cinzas e destruição. Ali, a bomba sepultou parte da alma de Ogawa: sua família, seus amigos, seus professores, sua escola, suas flores de cerejeira.

Após uma breve passagem por Santa Maria no Rio Grande do Sul, no dia 9 de abril de 1964, chegaram ao Núcleo Celso Ramos, de Frei Rogério, 8 famílias, mais de 50 pessoas, todos sobreviventes da bomba de Nagasaki, como imigrantes fruticultores. Entre eles, Kazumi Ogawa.

Deixara o Japão, sua terra natal, em busca de uma vida melhor, num país sem guerras, onde pudesse criar seus filhos. Passou breve período nos EUA mas trocou-o pelo Brasil. Aqui encontrou solo fértil, clima ameno, terra sem terremoto, tufão ou furacão e o povo com calor humano. Muitos voltaram ao Japão desistindo da vida sacrificada de agricultor. Ogawa permaneceu. Tinha fé no potencial daquelas terras.

Não esqueceu o Japão. Nem a desumanidade da guerra. Nem os mortos de Nagasaki. Erigiu em suas terras um pequeno santuário, onde todas as tardes, ao deixar a lavra do campo, numa oração íntima, desprovida de pompa, pedia atenção e desvelo divino à sua Nagasaki, às almas dos que pereceram na guerra, mas principalmente que Deus desse sabedoria aos homens para que compreendessem a desnecessidade de conflitos armados com tal terrível arsenal bélico.

Agradecia pela nova vida, pela família, pela porção de terras que faria inveja a qualquer agricultor japonês, pelo clima que possibilitava produtividade generosa.

As palavras comovem, mas o exemplo arrasta.

A notícia da atitude de Ogawa se espalhou e logo outras pessoas, além dos sobreviventes e descendentes, quiseram participar daquela cerimônia. Com o tempo, o governo de Santa Catarina, reconhecendo a importância cultural daquele ato, financiou a construção naquele local do Parque do Sino da Paz. Aí se encontra o sino fundido em aproximadamente 1600 que estava no Templo de Daionji, em Nagasaki e doado em 1998 pela Associação de Amizade Internacional da Província de Nagasaki à associação fundada por Ogawa e os sobreviventes, em reconhecimento ao seu movimento pela Paz.

Em todo 9 de agosto, o local recebe pessoas de vários lugares que participam da cerimônia presidida pelo imigrante japonês. Ao final, em silêncio, às 11:02 h, com o toque prolongado e sentido do triplo badalar do sino ainda ecoando nas colinas de Frei Rogério – como que anunciando pedido a ser feito – ouvem a oração de Ogawa com seu indefectível pedido de Paz para a Humanidade.

Kazumi Ogawa e a comunidade sobrevivente de Frei Rogério, são gente que fazem parte da riqueza espiritual de Santa Catarina.

Nosso reconhecimento aos homens públicos do nosso estado pela sensibilidade, visão cultural e antropológica, e principalmente por entender a profundidade espiritual da mensagem desta obra para Santa Catarina, para o Brasil e para a Humanidade.

2 thoughts on “A SEMANA DA PAZ – II”
  1. alem do personagem maravilhoso a bela narraçao deveria ser mais divulgada.estive em Hiroshima num 6 de agosto e fiquei muito emocionada penso que as pessoas todas principalmente os governantes deveriam parar so um minuto todos os dias e refletir sobre esses acontecimentos,acredito que logo teriamos mais paz no mundo.Apesar de tao triste tema,parabens pelo belo trabalho.

  2. Nunca fui ao Japão, mas desde criança aprendi a admirá-lo e, quando adolescente, cheguei a frequentar um Curso de
    Língua Japonesa na UFBA. Os relatos sobre a destruição cau-
    sada em Hiroshima e Nagasaki sempre me impressionaram.
    Não compreendo como homens que tomaram a decisaão de
    jogar bombas atômicas nas duas cidades, matando tanta
    gente, possam ter sentimentos de superioridade em relação
    aos demais. Os militares cumprem ordens e são “O BRAÇO
    ARMADO DOS POLÍTICOS”, que governam, decidem, decla-
    ram guerras. Isso não nos isenta da responsabilidade de en-
    vidar esforços para estabelecer uma nova civilização com
    mais respeito aos direitos humanos e mais CONSCIÊNCIA DE CIDANIA, FRATERNIDADE, LEALDADE e outros valores su-
    periores.
    Devemos desenvolver mais ações para que monstruosidades como as que aconteceram em Hiroshima e Nagasaki nunca mais voltem a acontecer.

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